Um passeio histórico pelos arredores do Cambuci e Aclimação

Você sabia que os bairros do Cambuci e Aclimação figuram entre os mais antigos de São Paulo?

 

Rua Espírita. Cambuci, 1927. Álbum Memória Pública do Acervo do Arquivo Público de São Paulo. Fotógrafo Caio P. Barreto.

O bairro do Cambuci foi oficialmente reconhecido em 19 de dezembro de 1906. O distrito de Cambuci tem aproximadamente 30 mil habitantes e é formado pelos bairros de Vila Deodoro, um pedaço da Mooca e Cambuci, que somam quase 4 km2.

Pouco tempo depois da Proclamação da República, o bairro foi batizado com esse nome por conta da grande concentração de árvores de Cambuci na região, árvore esta que possui uma boa madeira e seus frutos são apreciados numa infusão com aguardente.

Porém, antes da Proclamação da República, a região era muito utilizada por tropeiros que por meio dela tinham acesso ao Caminho do Mar, para chegar a Santos. Além disso, a região era considerada uma divisa entre a zona rural e a zona urbana, no qual um córrego as separava, o Córrego do Lavapés, muito utilizado pelos trabalhadores para descansar, lavar os pés e hidratar e alimentar seus animais de carga antes de seguirem viagem. Hoje no lugar do córrego encontra-se a famosa Rua do Lavapés.

Por volta de 1870 foi construída a Capela Nossa Senhora de Lourdes, que segundo contam moradores, teria sido erguida em razão da devoção de Eulália Assumpção e Silva (1834-1894) à Santa de Lourdes, que em 1895 deu lugar a Igreja da Glória.

Em 1890 foi construído o Museu do Ipiranga e a linha de bonde que atravessava o Cambuci, ligando o centro da cidade ao museu. Nessa mesma época, a riqueza gerada por conta do plantio de café e a extinção da escravidão, atraíram a vinda de muitos imigrantes europeus, em sua maioria italianos. Assim que desembarcavam no Porto de Santos e vinham para a capital, eram encaminhados para a Hospedaria dos Imigrantes, atual Museu da Imigração, ou acomodavam-se em pensões e vilas nas redondezas. Pouco tempo depois, com a exploração imobiliária nos arredores, surgiram novas ruas, a construção de novas casas e o surgimento de várias fábricas, dentre elas a Chapéus Ramenzoni (fábrica de chapéus da época), a Nadir Figueiredo (fábrica de utensílios de vidro) e a Villares (antiga fábrica de metais, atual empresa de elevadores).

Acredita-se que o bairro é o berço do anarquismo, nele foram registradas inúmeras manifestações operárias, na qual tinham como local de encontro o Cineteatro Guarani. Durante a revolução de 1924, a igreja da Glória foi tomada por rebeldes, que liderados pelo general Isidoro Dias Lopes usaram o local, que ficava no ponto mais alto da região, para acompanhar a movimentação das tropas pela cidade.

Na contramão dos acontecimentos, o artista plástico Alfredo Volpi retratou e recriou os bairros do Cambuci, Brás e Ipiranga em seus quadros. Nascido em Lucca na Itália, o artista chegou ao Brasil com 2 anos de idade, e até sua morte em 1988, aos 92 anos de idade, morou no bairro do Cambuci.  Alfredo Volpi era autodidata e foi considerado um dos maiores artistas brasileiros, suas obras fundiam cores e formas geométricas. Outro diferencial de suas telas eram o perfume que exalavam, pois, o artista produzia suas próprias tintas com esse objetivo.

Quadro “A Sereia”, de Alfredo Volpi, um dos mais famosos do artista que viveu no bairro do Cambuci, em São Paulo.

Outro artista reconhecido que morou no bairro foi Waldemar Seyssel, que ficou conhecido como Palhaço Arrelia. O comediante foi o primeiro a liderar um programa de televisão infantil em 1953. O palhaço teve sua estreia marcada em 1922 no bairro do Cambuci. Seus irmãos o caracterizaram de palhaço, em seguida empurraram-no para o picadeiro. Com o susto ele caiu, e, reagindo com trejeitos e caretas engraçadas enquanto se levantava mancando, o público ria e aplaudia achando que Waldemar estava fazendo graça.

 

Já o bairro da Aclimação, tem seu surgimento a partir 1892. Nesse ano, o médico Carlos José Botelho adquiriu a área e quis reproduzir no local o Jardim D’Acclimatation, de Paris. O local passou a chamar Jardim da Aclimação, o que originou o atual Parque da Aclimação e de todo o bairro que leva o mesmo nome.

Originalmente o parque era muito maior e até 1920 foi uma das grandes atrações da capital. O complexo abrigava a sede da Sociedade Hípica Paulista (depois transferida para o Brooklin Novo), um posto zootécnico e um laboratório de pesquisas científicas. O complexo de lazer contava com bosque, lago com canoas para passeios, um zoológico (o primeiro da cidade), salão de baile, rinque de patinação, barracas de jogos, aquário e parque de diversões. O acesso era feito de bonde, que partia da região da Sé aos domingos e feriados.

Em 1939, o prefeito Prestes Maia comprou a área dos herdeiros da família Botelho, de 182 mil m2, colocando um ponto final à maior parte de suas atrações. A fundação oficial do bairro é datada do dia 14 de maio de 1939. E em 1940 foi criada a Paróquia da Aclimação, na Igreja Nossa Senhora do Carmo.

Na década de 50, o bairro foi se desenvolvendo no entorno do parque e, a partir de 1970, aconteceu a grande expansão imobiliária, dando lugar a muitos edifícios, aumentando a população e o comércio da região.

No ano de 1986, os moradores criaram a Associação de Defesa do Parque da Aclimação, e mobilizaram-se para realizar o tombamento do Parque da Aclimação, realizado pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico.

Nos dias atuais o bairro da Aclimação abriga muitos descendentes asiáticos. Estima-se que 30% dos moradores de cada edifício da região sejam coreanos ou descendentes, acredita-se que por conta das igrejas presbiterianas nas áreas próximas ao bairro, já que a religião protestante é seguida pela maioria.

Curiosidade: O bairro registrou a maior queda de granizo em maio de 2014, o que levou a morte todos os peixes que habitavam o lago do Parque da Aclimação, destruiu casas e acumulou mais de 310 toneladas de gelo nas ruas do bairro.

 

O que fazer na região:

 

Igreja da Glória , antiga Capela Nossa Senhora de Lourdes

A Paróquia de São Joaquim do Cambuci foi criada pelo Decreto de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante, durante o pontificado de S.S. Leão XIII, no dia 23 de março de 1895, publicado na Catedral na sede provisória da nova Paróquia de 25 de março de 1895. A pedra fundamental foi posta em 05 de abril 1896, no morro Vermelho, entre as ruas Tamandaré e Vergueiro. A Igreja de Nossa Senhora da Glória pertencia à família de Dona Eulália D’Assunção e ficou sendo a sede provisória da Paróquia. Como nunca foi construída a nova matriz, a Dona Eulália D’Assunção e os filhos doaram esta propriedade à Mitra Arquidiocesana de São Paulo.
A paróquia de São Joaquim do Cambuci funciona na igreja de N. S. da Glória.
Endereço: Av. Lacerda Franco, 2
Telefone: (11) 3277-2820
Mais informações: www.arquisp.org.br

 

Museu do Ipiranga e Parque da Independência 

 

 

Localizado na Colina do Ipiranga, junto ao riacho onde D. Pedro I declarou o país independente de Portugal em 1822. Com projeto paisagístico inspirado nos Jardins de Versailles, da França, o local conta com uma infinidade de espécies de árvores e serve de cenário para eventos esportivos e festivais de música, abrigando também o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (em reforma), o Monumento à Independência e a Casa do Grito, com várias exposições sobre a cidade.
Endereço: Rua Brigadeiro Jordão, 149
Telefone: (11) 2065-8001

Mais informações: www.mp.usp.br/museu-do-ipiranga

 

Museu da Imigração

 

 

Nos séculos XIX e XX representantes de mais de 70 nacionalidades chegaram ao Brasil com o sonho de “fazer a América”. Desembarcaram em terras brasileiras com o anseio de refazer suas vidas trabalhando nas lavouras de café e na indústria paulista. Desde então, trouxeram contribuições expressivas para a história e formação cultural do país. Um conjunto de heranças como sobrenomes, sotaques, costumes, culinária e vestimentas são, até os dias atuais, traços significativos desse processo.
Inaugurada em 1887, a Hospedaria de Imigrantes se tornou o principal local de abrigo dos estrangeiros recém-chegados. Nesse sentido, o antigo prédio da Hospedaria – hoje sede do Museu da Imigração – foi cenário de expectativas, conquistas e angústias de mais de 2,5 milhões de pessoas que formaram um intenso entrelaçamento étnico entre 1887 e 1978.
Ao longo de seus 91 anos, a Hospedaria acolheu e encaminhou os imigrantes aos novos empregos. Para isso, o prédio contava com a Agência Oficial de Colonização e Trabalho. Além dos alojamentos, foi criada uma Central de serviço médico com farmácia e laboratório de análises, serviços de correio e telégrafo, posto policial, lavanderia, cozinha, refeitório e um setor de assistência odontológica.
Especialmente na década de 1930, a Hospedaria de Imigrantes passou a acolher também trabalhadores migrantes de outros estados brasileiros. Na década de 1970, perdeu sua função original e em 1978 recebeu pela última vez um grupo de imigrantes coreanos, pouco antes de encerrar suas atividades.
Endereço: Rua Visconde de Parnaíba, 1316
Telefone: (11) 2692-1866
Mais informações: www.museudaimigracao.org.br

 

Parque da Aclimação e Biblioteca Raul Bopp

 

 

Criado no início do século XX com intuito de criação de gado leiteiro, o parque – antes chamado Jardim da Aclimação – era também procurado por famílias para lazer. A partir de 1983, face a ameaças de perda da área pelo crescimento imobiliário, os moradores do bairro se uniram num movimento de proteção ao parque e em 1986 foi oficializado o tombamento do parque pelo CONDEPHAAT.
Três esculturas de Arcângelo Ianelli estão distribuídas pelo parque em meio ao verde: “Dança Brancos”, “O Retorno” e “Forma Corrompida”. Pintor, escultor, ilustrador e desenhista, o autodidata Arcangelo Ianelli nasceu em São Paulo no dia 18 de novembro de 1922. Iniciou seu trabalho com cenas do dia a dia, sempre a partir do cotidiano e de paisagens marinhas. Buscou o abstracionismo na década de 1960, mas incorporou o geométrico nos anos 1970. A escultura foi outra de suas paixões, consolidada nos anos 1990. Ao mesmo tempo, a pintura se tornou suave, com menor intensidade nas cores. O artista faleceu no dia 26 de maio de 2009.
Endereço: Rua Muniz de Souza, 1.119
Telefone: (11) 3208-4042
Mais informações: www.prefeitura.sp.gov.br

 

Centro Cultural São Paulo

Inaugurado em 1982, o Centro Cultural São Paulo é um dos primeiros centros culturais multidisciplinares do país. Lugar público por excelência, combina a oferta de programação e de serviços culturais – gratuitos ou a preços acessíveis – com a disponibilização de seus espaços e instalações para um uso plural, livre e propositivo de seus frequentadores, provocando uma reflexão quanto ao papel dos espaços e serviços públicos na promoção da cultura, da criatividade, da cidadania e da autonomia em uma cidade com as dimensões de São Paulo.
O projeto, concebido nos anos 1970 por uma equipe de arquitetos liderados por Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, teve referências de grandes centros culturais multidisciplinares internacionais e contou com uma extensa pesquisa sobre as condições de acesso e proximidade com a cultura da população paulistana. O objetivo foi permitir o máximo de contato entre o frequentador e tudo o que é oferecido em seus 46.500 m².
Endereço: Rua Vergueiro, 1000
Telefone: (11) 3397-4002
Mais informações: www.centrocultural.sp.gov.br

 

Bairro da Liberdade

O tradicional bairro japonês oferece muitas opções como karaokês, lojinhas, restaurantes típicos, templos budistas, a famosa Feira de Arte, Artesanato e Cultura da Liberdade que acontece todos os finais de semana e para os baladeiros de plantão o Cine Joia. Instalado em um cinema especializado em projeções de cineastas japoneses inaugurado em 1952, o Cine Joia reabre as portas com toda a infraestrutura necessária para receber bandas de médio porte dos mais variados estilos musicais, com uma curadoria afinada com seu tempo e nossa cidade, São Paulo.
Cine Joia
Endereço: Praça Carlos Gomes, 82
Telefone: (11) 3101-1305
Mais informações: www.cinejoia.tv
Avenida Paulista

A mais paulista das avenidas. A avenida foi criada no final do século XIX, inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891, por iniciativa do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima e do Dr. Clementino de Souza e Castro (na época Presidente do conselho de intendências da cidade de São Paulo, atual cargo de prefeito), para abrigar paulistas que desejavam adquirir seu espaço na cidade. Naquela época, houve grande expansão imobiliária em terrenos de antigas fazendas e áreas devolutas, o que deu início a um período de grande crescimento. As novas ruas seguiam projetos desenvolvidos por engenheiros renomados, e nas áreas mais próximas à avenida e a seu parque central os terrenos eram naturalmente mais caros que nas áreas mais afastadas; não havia apenas residências de maior porte, mas também habitações populares, casebres e até mesmo cocheiras em toda a região circundante.
A região conta com cinemas, museus, bares, restaurantes, cafés, teatros, centros empresariais e culturais, faculdades, escolas, hospitais, shopping centers, lojas de rua.
Paulista Aberta – Avenida Paulista para pedestres aos domingos e feriados
No dia 28 de agosto de 2015 a Avenida Paulista foi aberta pela primeira vez exclusivamente para as pessoas, quando o secretário municipal de Transportes pôde realizar os últimos estudos sobre o impacto e a as alternativas para o trânsito na região.
Mais informações: www.paulistaaberta.minhasampa.org.br

 

Restaurante La Mamma Cucina

 

 

Espírito alimentado, é hora de alimentar o corpo! Um passeio histórico pelos bairros da Aclimação e do Cambuci merecem uma pausa para um bom momento gastronômico.

O restaurante tipicamente italiano foi fundado pelo empresário Osiris Gomes Golluscio em 1976 e por mais de quatro décadas vem servindo gerações de moradores, sempre com muita qualidade e primor no atendimento. O espaço surgiu inicialmente na Avenida Lins de Vasconcelos, numa pequena locação, como rosticceria apenas. Em 1997, mudou-se para a Rua Mesquita, em sede própria, maior e mais aconchegante, ampliando para os serviços de restaurante e pizzaria no piso superior.

O prato carro-chefe do La Mamma é o famoso filet à parmegiana, servido com arroz e fritas, sendo um dos principais motivos para lotar a casa aos domingos. Além do cardápio de inspiração italiana e brasileira, cujos pratos podem ser degustados no restaurante ou levados para casa, recentemente a casa inaugurou seu próprio pastifício, a Casa Golluscio, com massas especiais e exclusivas, seguindo a receita tradicional italiana e elaboradas artesanalmente, com ingredientes frescos e naturais, sem qualquer conservante, corante ou aditivo.

As pizzas do La Mamma são um capítulo a parte. Feitas com ingredientes selecionados, há opções para todos os gostos, dos tradicionais aos sofisticados, inclusive para veganos.

A casa ainda aceita reservas para eventos e confraternizações.
Endereço: Rua Mesquita, 448
Telefone: (11) 2915-7344
Mais informações: www.lamamma.com.br

 

E você, conhece algum outro ponto turístico bacana em nossa região? Compartilhe com a gente, deixando seu comentário neste post!

 

Fontes de pesquisa:  almanaque.folha.uol.com.br , www.saopaulominhacidade.com.br, www.sao-paulo.estadao.com.br, www.prefeitura.sp.gov.br , www.wikipedia.org, www.saopauloinfoco.com.br, www.mac.com.br, www.ppedrozo1.lwsite.com.br, www.identidadesp.com.br.